A Toyota conseguiu liderar o segmento de sedãs médios com o Corolla, um carro conhecido pelo baixo custo de manutenção. Os japoneses acreditavam que apenas esse argumento seria suficiente para emplacar um carro popular, e então trouxeram o Etios, que fora inteiramente projetado na Índia para ser produzido também na fábrica paulista de Sorocaba.
Acontece que o brasileiro realmente valoriza baixo custo de manutenção, no entanto, também valoriza na mesma proporção (ou até mais) o design e o aspecto geral. Isso explica o sucesso de Onix e Prisma, atuais líderes: estilo europeu com custo indiano. Até o Logan — base para os engenheiros do Etios — teve que render-se às exigências brasileiras. A Hyundai foi mais esperta e projetou o HB20 ao gosto brasileiro e está colhendo os frutos até hoje.

Conceito do Toyota Etios mostrado em 2010
Origem humilde
Ao contrário do Chevrolet e do Hyundai o Etios não foi concebido para ser um “compacto chique”, embora tente em algumas versões. A origem indiana prova que o objetivo do projeto era de fato ser barato de comprar e manter, e tal pretensão se faz notar em vários detalhes. O padrão de qualidade é tão mais tolerante que as frestas entre as chapas da carroceria e entre as peças de acabamento seguem padrões de carros dos anos 80.
A origem franciscana se faz ainda mais notória no interior nem um pouco elegante, mas como acontece com o pouco atraente Nissan Tiida, bastam alguns minutos ao volante para se apaixonar. Suspensão e bancos confortáveis, direção com assistência elétrica bastante leve e câmbio manual muito preciso, ótimo desempenho: o carro é tão bom de dirigir que em poucos minutos seus defeitos desaparecem.
Infelizmente sua estética desprivilegiada afastou interessados, que sequer puderam experimentar seus bons predicados. Para piorar sua situação, em período próximo foram ou seriam lançados Fiat Palio e Grand Siena, Chevrolet Onix e Prisma, Hyundai HB20 e HB20S e Peugeot 208. A expectativa inicial de vender 70 mil unidades por ano jamais foi atingida.
Mecânica perfeita
A Toyota optou por usar apenas motor 1.3 e 1.5 no hatch e 1.5 no sedã, com imensa vantagem sobre os concorrentes, principalmente sobre o anêmico 1.0 que Renault usava antes de adotar o 1.0 SCe. O câmbio manual de cinco marchas usado até 2016 e o de seis tem engates leves e precisos como os da Volkswagen.
O câmbio automático opcional é o mesmo usado pelo Corolla até 2013, o Aisin U341E. Tem como maior qualidade sua robustez, é um câmbio que raramente apresenta problema. Sua desvantagem está justamente no número de marchas, apenas quatro. Como foi dito no teste do Corolla XEi 2.0, há um degrau enorme entre as marchas 2ª e 3ª que prejudica o desempenho em ultrapassagens e subidas de serra. Os pequenos motores do Etios precisam de seis marchas, como em todos os seus concorrentes.
Os dois motores resultam de mesmo projeto, um tem 1.329 cm³ e rende 84 cv e 11,9 m.kgf com gasolina e 90 cv e 12,8 m.kgf com etanol, enquanto o outro de 1.496 cm³ rende 92 cv e 13,9 m.kgf com gasolina e 96 cv e 13,9 m.kgf com etanol. São completamente de alumínio e usam corrente de comando, que não exige substituição como a correia. Em 2016 foram nacionalizados e adotaram comando de válvulas variável VVT-i, o 1,3 passou a render 88/98 cv e 12,3/12,8 m.kgf e o 1.5, 102/107 cv e 14/14,4 m.kgf.
Na tabela abaixo estão os custos das revisões do Etios comparadas com Renault Sandero, Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Volkswagen Gol e Fiat Uno.
Prós e contras
Se a aparência externa que lembra vagamente o primeiro Logan é aceitável, o interior decepciona até mesmo donos de Gol — só mesmo um dono de Mille sentirá alguma evolução. Absolutamente nada parece elegante, nem mesmo o painel digital adotado no ano-modelo 2017. A abertura do capô é feita por um botão semelhante aos antigos afogadores, passa a impressão que a Toyota planejou usar carburador.
A simplicidade reinante deve incomodar que paga mais de R$ 71 mil pelo sedã Platinum, mesmo que esta versão disponha de central multimídia, bancos de couro e volante de Corolla. Parece mais sensato pagar os R$ 69 mil pedidos pelo Prisma LTZ AT6 ou mesmo os R$ 74 mil pedidos pelo Virtus Comfortline. Abaixo está a tabela com os detalhes que agradam e desagradam.
No lançamento tinha uma versão básica oferecida por R$ 29.990, era a opção mais barata desconsiderando os 1.0 e sai da fábrica sem direção elétrica, vidros elétricos ou ar-condicionado. Atualmente o Etiox X 1.3 é o mais barato, por R$ 48.400 sai da concessionária com ar-condicionado, direção elétrica, abertura elétrica do porta-malas, vidros elétricos nas quatro portas, cintos dianteiros com pré-tensionador, controle de estabilidade e controle de tração. Mesmo visualmente simples, é uma excelente compra.
Manutenção do Toyota Etios
O motor EA-111 da Volkswagen foi ou é usado em Gol, Voyage, Saveiro, Fox, Polo, Golf e Kombi. O Zetec Rocam da Ford foi colocado em Ka, Fiesta, EcoSport, Courier e Focus. Na Chevrolet o compartilhamento de motores chegou até à Fiat, que usou seu 1.8 em quase toda a linha.
Os motores 1.3 e 1.5 da Toyota são usados apenas no Etios, um carro que vendeu e vende muito menos que seus concorrentes. Isso faz com que as lojas de autopeças mantenham estoques menores, o que acarretará em maior dificuldade para encontrar peças e as poucas encontradas terão preços também maiores. O lançamento do Toyota Yaris com o mesmo 1.5 e seu provável sucesso ajudará a reduzir o custo de manutenção do Etios.

Interior dos primeiros anos
Guia de versões do Toyota Etios 2012/2013
- Básico: disponível apenas como hatch e sem denominação, com airbag duplo, aviso luminoso para porta aberta e sinto desatado, aquecimento, comando interno para abertura de porta-malas e portinhola do tanque;
- Etios X: hatch (1.3) ou sedã (1.5), itens anteriores mais ABS, direção com assistência elétrica, volante com regulagem de altura, grade na cor da carroceria, espelhos nos para-sóis e limpador e desembaçador do vidro traseiro. Ar-condicionado opcional;
- Etios XS: hatch (1.3) ou sedã (1.5), itens anteriores mais vidros elétricos e nas quatro portas, travas elétricas, ar-condicionado, rádio com MP3 e USB, conta-giros e maçanetas pintadas na cor da carroceria;
- Etios XLS: versão mais cara até o lançamento de Cross e Platinum, duas carrocerias, sempre com motor 1.5, itens anteriores acompanhados de faróis de neblina, rodas de alumínio de 15″, tampa traseira com comando elétrico, alarme, acabamento interno melhorado e detalhes cromados na tampa traseira e grade dianteira;

Interior da versão Ready, já com o quadro digital.
Cronograma
- Etios 2012/2013: lançamento do Etios nas versões X, XS e XLS, com carroceria hatch e sedã e motores 1.3 e 1.5. Preços a partir de R$ 29.990;
- Etios 2013/2014: lançamento da versão Cross, de apelo aventureiro; detalhes internos em preto brilhante; XS passa a ter motor 1.5; pintura do compartimento do motor (antes vinha em primer);
- Etios 2014/2015: lançamento da versão Platinum, a nova topo de linha e equipada com central multimídia, bancos de couro, volante multifuncional (igual ao do Corolla) e sensores de estacionamento traseiro;
- Etios 2015/2016: central multimídia com espelhamento de série nas versões XLS e Cross; lançamento da versão especial Ready, 250 exemplares baseados na XS 1.5 AT4 e grade dianteira da topo de linha;
- Etios 2016/2017: câmbio automático de quatro marchas opcional para todas as versões; câmbio manual passa de cinco para seis marchas; motor 1.3 adota VVT-i e passa de 80 cv para 88 cv com gasolina; motor 1.5 adota VVT-i e passa de 92 cv a 102 cv com gasolina; quadro de instrumentos com velocímetro digital e computador de bordo; Isofix, encosto de cabeça e cinto de três pontos para o 5º passageiro; embreagem hidráulica; suspensão e direção recalibrados; aprimoramento do isolamento acústico; versão Platinum com para-choque dianteiro diferenciado;
- Etios 2017/2018: para-choque exclusivo da versão mais cara estendido às demais versões,
- Etios 2018/2019: novos para-choque dianteiro e grade, controle de estabilidade e assistente de partida em rampa para toda a linha (exceto a mais básica), XS passa a ser X-Plus; câmbio automático passa a ser de série em XLS e Platinum;
Comprando um Toyota Etios usado

Etios Platinum
A versão Platinum é a mais luxuosa da linha e devido ao preço é a de pior custo-benefício enquanto está na concessionária: embora bastante equipada, continua com o interior bastante simples e aspecto de carro popular. Na hora de comprar um usado a situação fica oposta, a versão torna-se a mais interessante porque é possível encontrá-la com preços bem interessantes.
Caso não seja possível encontrar um Etios Platinum em boas condições, uma XLS ou mesmo uma XS 2013/2014 também são interessantes por manterem o motor mais potente e os equipamentos mais desejados, tais como direção elétrica, ar-condicionado e comandos elétricos para vidros e travas. O Etios Cross vem sempre completo, tendo inclusive câmbio automático nas últimas unidades produzidas. Não se iluda com o Etios X automático dos primeiros anos, embora tenha o tão desejado câmbio ainda lhe falta itens importantes.
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